FMP Pelo Olhar da Aluna: Joyce Kelly - FMP - Fundação Escola Superior do Ministério Público

Joyce Kelly, estudante de Graduação na FMP, é também ativista, servidora pública, integra o Instituto da Advocacia Negra Brasileira (IANB) e o Coletivo Antirracista Esperança Garcia (CAES). Ela foi convidada para conversar com Fernando Zanuzo, nosso Supervisor de Comunicação, na série especial Pelo Olhar do Aluno. 

A aluna fala sobre o papel do Direito em sua vida, a vivência antirracista e as possibilidades que o Direito oferece, desde uma carreira no Ministério Público à docência. Assista na íntegra:

 

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Quando houve o despertar pelo ativismo? 

Já nasci com um senso bem crítico em reconhecer as desigualdades na sociedade e não sabia muito o que fazer. Agora, com 31 anos e uma graduação, vim para a FMP com o objetivo de ter meios técnicos que possam ajudar na mudança que pretendo fomentar no mundo, começando pela nossa região. Precisamos começar no lugar onde a gente está, e a academia abre muito a nossa mente para essas questões.  

E como chegou até a FMP? 

Sou servidora pública. Comecei a estudar para concursos em 2015, em cargos de nível médio, porque ainda não era graduada. Foi aí que eu conheci o Direito e me destacava, principalmente quando ia responder as questões.  Comecei a trabalhar num órgão público e, no meu trabalho, tive mais contato com Direito Administrativo, lidando com licitações, contratos e a Comissão Permanente de Sindicância. Posteriormente, fui convocada para ser jurada e me apaixonei pelo Tribunal do Júri e pela ideia de ser membra do Ministério Público. 

Então, queria estar no Ensino Superior, porque acho muito importante que a comunidade negra alcance essas oportunidades, faça a graduação, mestrado, doutorado… Dessa forma, comecei a procurar uma instituição de ensino. Para quem quer ingressar na carreira do Ministério Público, estudar na FMP seria a melhor opção. 

Então o foco é ser procuradora, promotora? 

Tem uma piadinha quando a gente entra na faculdade: você se apaixona pelo Penal e se casa com o Civil. Eu entrei apaixonada pelo Penal e, com a Prof.ª Thaís Teixeira Rodrigues, descobri a criminologia e me apaixonei mais ainda. Também estou descobrindo a pesquisa, inclusive um dos objetivos do nosso Coletivo é fomentar a pesquisa e o debate em um nível mais acadêmico, para sair dos achismos sobre racismo. 

Agora que estou no 6º semestre, minhas dúvidas só aumentaram. Entrei com a certeza e estou começando a gostar de outras áreas, como Direito Internacional, por exemplo. Provavelmente vou tentar a carreira no MP, e fazer concurso para Magistratura – eu gosto de ser servidora e quero continuar servindo ao público. Mas deixo as possibilidades em aberto, felizmente o Direito nos dá um leque de oportunidades. Acho que até o fim da graduação me decido ou pode acontecer que a minha próxima carreira me escolha. 

Sobre o corpo docente: de que maneira o aluno é estimulado na FMP? 

De diversas formas. Eu tenho admiração por muitos professores. A Prof.ª Thais fomenta muito que a gente continue na pesquisa e se aprofundando nos assuntos. O Prof. Anízio estimula a nossa curiosidade. A Prof.ª Betânia, a Prof.ª Raquel, o Prof. Plínio… São tantos que tenho até medo de esquecer, porque os professores nos acolhem, eles são apaixonados pelo conteúdo que lecionam e tentam trazer essa paixão ao aluno.  

E essa paixão precisa de certa disciplina, certo? 

Sim, nós alunos precisamos ter disciplina, já que o volume de leituras é enorme. Porém, escolhi a FMP exatamente por nos capacitar bastante. Quando escolhi o Direito, tive um entrave financeiro. E existem dois tipos de estudante: aquele que tem o apoio financeiro dos pais e aquele que estuda para um dia ser o apoio financeiro dos seus pais. Me encaixo na segunda categoria. 

Só pude estudar na FMP por ter conseguido um concurso em órgão público e já tinha uma graduação tecnológica – eu sou tecnóloga em Mediação, área que flerta com o Direito. Ter o desconto para ingresso de Diplomado e o benefício acadêmico que nos permite parcelar sem juros para depois da graduação, são políticas novas de inclusão que auxiliam bastante para quem quer ter um conhecimento de qualidade. Isso é um dos pontos que mais tenho a agradecer a FMP por me proporcionar. 

E há oportunidade e apoio pedagógico aos projetos dos alunos aqui? 

Sim! Fiquei muito surpresa com o quanto foi bem aceito o Coletivo Antirracista Esperança Garcia. Afinal, nós o criamos porque existe racismo institucional na FMP, assim como em qualquer instituição. Contudo, como eu estou na FMP, tenho que promover a mudança dentro da instituição que estou. É importante fazer o exercício de olhar para o lado e questionar por quê tem poucos negros na universidade, por exemplo. 

Os colegas se mobilizam muito nas redes sociais, são alunos engajados na transformação social. Por conta disso, a gente pôde dar andamento nesse projeto. Fundamos o CAES em 2020, no mês da consciência negra. Até agora, nós já temos um grupo de leitura e estamos promovendo palestras pra falar das questões raciais, mas não só isso: queremos trazer pessoas negras com conhecimento jurídico aprofundado de qualidade. E esse apoio dos colegas, professores e colaboradores foi fundamental. 

No dia a dia como servidora pública, depois que ingressou na FMP, houve uma transformação no teu trabalho? 

Eu tinha certo conhecimento jurídico por estudar para concurso, mas é um conhecimento letra da lei. A FMP está me proporcionando a doutrina, a jurisprudência, coisas que eu não tinha acesso ou nem sabia quais as melhores ferramentas para acessar. Portanto, tem me auxiliado bastante. Agora que eu faço parte do corpo da sindicância, ter esse arcabouço pedagógico nos auxilia a prestar um melhor trabalho à comunidade e fazê-lo com mais segurança. 

Parabenizo a instituição por nos dar as ferramentas e escutar nossos apelos, e ceder meios pra colocar em prática as nossas ambições acadêmicas e pessoais.  

Pensa em uma carreira na docência? 

Penso sim. Estou explorando esse leque de oportunidades que o Direito tem. Quero muito fazer mestrado, doutorado, ter uma boa carreira no judiciário, no MP… Ser professora também, igual os nossos professores. Afinal, conhecimento bom a gente não guarda, nós compartilhamos. O mais legal também é continuar aprendendo com os alunos, como vejo os nossos docentes aprendendo. Temos muitos professores assim, principalmente agora que entramos de cabeça na temática racial, eles estão correndo atrás para aprender junto com a gente e querem se qualificar no tema. 

Qual o recado que deixa para os colegas, professores e colaboradores da FMP? 

Como uma boa ativista, tem uma frase que precisa ser replicada eternamente. Parafraseando Angela Davis, quando estamos numa sociedade racista, não basta não sermos racista, nós precisamos nos posicionar e sermos antirracista.  

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